terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Na esquina. Carnaval.

por João Paulo Marques

Há mais de mil sorrisos.Dezenas em cada esquina. Porque o carnaval de Juazeiro é na esquina. Henrique Rocha com a Adolfo Viana. Pequeno, apertado. Onde a festa vira festa. Nem adianta passar o trio. O som continua nas barracas de latão - dois reais, um. Combustível! De que é feito o carnaval? De cara? Não! Alguma coisa deve alterar o folião. Alegria a de estar na rua. Nem que seja. No meio do redemoinho.Latão, dois reais, um. Quantos tomou o cara meio gordo, todo suado, uma espécie de passadeira com dois chifrinhos vermelhos a piscar, parecendo o diabo, na rua, no meio do redemoinho, feito Riobaldo em alegria? Quem souber morre. Do trio gritam: pega ela aê , pega ela aê. Ele avança para as meninas que passam. Pega ela aê, pega ela aê. Meio assustadas, meio divertidas, atravessam, vão com o trio. Mas o diabo do carnaval permanece na esquina. É como rio: fica parado que ele passa por você. Sozinho. È carnaval.

E tem o lado de lá da rua. O lado do Topázio. Recanto das jóias. Parece um concurso de flor. Sem abadás. Nem parecem pipocas. São quadros de Deus, folião mor. As meninas do Topázio. Loiras, algumas, só se vê em Juazeiro. Morenas, outras começam casamento. Sorrisos, quando fingem que não ver. Sorrisos quando recebem meio de surpresa, um mal pronunciado: linda. O diacho do latão enrola, um pouco, a língua. Mesmo assim, sorriso. É carnaval.

Último dia. Domingo. À vontade. Sandália, bermuda, camiseta. Último dia. Já? Na esquina: flores, sorrisos, olhares. Lindas. Latão. Dois reais, um. E o rio de suor, cerveja e alegria passa por quem fica. Na esquina. No meio da rua. No meio do redemoinho. Na vida. Sabes. Foi carnaval.

2 comentários:

  1. É o escapismo! Sorrimos sem razão, no desespero como diria Cazuza. Rir-se em frente da segregação. Continua rindo enquanto o cantor do trio expulsa o cara que não desembolsou 100, 200 reais para está no curral de cordas. Faz-se festa em meio a milhares de policiais que estão ali pronto para te "descer a madeira" no simples descuido. Como disse, do jeito que vamos não existe luz no fim do túnel.

    Cecílio

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  2. Passar aqui e não dizer nada é até sacrilégio. E não é que essa estória de escrever com pontinhos deixa o texto interessante! Viva a musicalidade, não é João?

    Gostei do texto. Crítico como o autor!
    Abraço,
    Emiliana

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