sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Noite dos Desmascarados

Por Jaquelyne Costa
A avenida por inteiro estava um rebuliço só. A cidade parece bem mais viva agora, carros, caminhões lotados de bebidas, homens em andaimes e muita música. O cenário estava prestes a ser concluído, faltavam apenas alguns retoques para que logo a festa começasse de verdade. Eu e uma amiga voltávamos da faculdade, rotina de estudante que depende do ônibus para circular entre essas duas cidades. Tudo normal até chegarmos nesta tal avenida repleta de luzes brancas quase azuis de tão intensas. As formigas, por atração à luz, adoraram e resolveram participar da concentração que acontecia: havia não só cheiro de carnaval, havia a essência carnavalesca das coisas.

“Diga aí, moça!!Quer um abadá?”, um rapaz cheio de sacolas de abadás, parecia apressado, me veio de enleio. “Não, muito obrigada.”, respondi. Ele olha e não entende, afinal, uma jovem, na Bahia, não querer um abadá é quase ser um extra-terrestre. Andando mais adiante outro rapaz, desta vez mais educado, ofereceu-me um “Boa noite!” e em seguida entrega o panfleto dum bloco que não recordo o nome. Até aqui estou contando coisas que acontecem e que nessa época do ano todo mundo sabe que é assim. Mas logo vem a cena motivo desta crônica que comecei a escrever.
Quando já nos aproximávamos do ponto de ônibus, cansadas, mortas de vontade de chegar às nossas casas, veio o cenário mais estranho, pelo menos para mim. À minha direita um grande camarote foi montado, e caixas de som potentes gritavam uma dessas músicas de carnaval, mas que se escuta o ano inteiro (infelizmente). Nada disso me incomoda, não sou a azarada vizinha deste palco mesmo!! À minha esquerda se encontra a Catedral da cidade. Em sua calçada barraquinhas de bombons e bebidas se amontoavam, pessoas que dançavam e olhavam a colocação de uma enorme faixa com a marca de uma cerveja, e já do lado de dentro do muro um homem instalava uma placa onde se via em claras letras Point da Festa, ou coisa assim.
Para mim isso foi o fim da noite. O carnaval parece ser a festa mais importante para a maioria dos habitantes. É nela que se purificam, que extravasam o estresse de um ano que mal começou. Contava-se nos dedos os dias desta sagrada comemoração. Havia uma excitação nas pessoas, um riso excessivo, um colorido afetado no ar. Não sou contra, nem a favor desta festa. O que me deixou sem comentários foi a transformação da Catedral em point de puxada. Aí para mim foi o cúmulo! E todos caminhavam em torno dela sem o menor constrangimento. Todos estavam mesmo animados! Essa foi a noite dos desmascarados!

2 comentários:

  1. Talvez se fature vendendo drogas e desestruturando mais uma família. É preciso gerar novos conflitos para renovar os clientes do confessionário.

    Gostei da percepção Jaque!

    Cecílio

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